terça-feira, 31 de outubro de 2006

"põe-me o braço no ombro..."

Um livro para ler

Eu Hei-de Amar Uma Pedra (2004)

"Uma mulher faz crochet na praia, dois toldos adiante, ano após ano, para que ela e o homem que tem outra mulher, e duas filhas, possam ver-se. Ela não pede nada, ninguém a vê, o crochet esconde uma pessoa inteira. O homem morre, e essa mulher é uma doente de 82 anos, em consulta, psiquiátrica. Encontra o homem aos dezassete anos. Muito depois, reencontram-se. Não teve outro homem, nunca. Encontram-se uma vez por semana numa hospedaria da Graça, por vezes em Sintra, e no verão, nessa praia."
ando a ler este livro do António Lobo Antunes... *

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

mais uma vez o aborto...

RTP 1, "Prós e contras", hoje sobre a despenalização do aborto, a discussão está de novo na boca do povo... já não aguento... quer-se utilizar o aborto como um método contraceptivo, quer-me a mim parecer. lembrei-me de um artigo que tinha lido, que desmistifica os argumentos que os apoiantes do Sim utilizam...
"Para justificar este crime abominável, os abortistas inventaram uma grande quantidade de falsos argumentos que foram difundidos insistentemente, especial naqueles países onde, por qualquer motivo, tentam buscar a legalização do aborto ou ampliá-lo onde já foi legalizado alguma de suas formas."
http://www.acidigital.com/vida/aborto/mentiras.htm

no fim do debate sinto que não levou a lado nenhum, ou se calhar, levou, estou cada vez mais determinada pelo Não!!
voltamos de novo à vaca fria... *

Não queiras saber de mim


Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim

Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo

Mas tu pões esse vestido
E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
Mas nem isso faz sentido
Só agrava o meu estado
Quanto mais brilha a tua luz
Mais eu fico apagado

Amanhã eu sei já passa
Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo
carlos tê/rui veloso


porque há dias e dias... há dias em que me sinto efectivamente como esta música descreve... o que vale é que "amanhã eu sei já passa"!
têm sido uns dias agitados... *

domingo, 29 de outubro de 2006

a revista Tabu, que acompanha a edição do jornal Sol, trazia esta semana um artigo intitulado "Prazer de viver" e contava a história de quatro pessoas que descontentes com aquilo que faziam, ousaram mudar de vida... alguns mudaram radicalmente. "quando deixar de sonhar, o homem vê o dia como a noite."
que tenhamos a coragem de mudar, de sonhar... *

sexta-feira, 27 de outubro de 2006


o sol regressou =)

as gavetas da alma


as horas vão altas e o sono já espreita... têm sido uns dias interessantes, quando disse que andava a arrumar as gavetas da alma, não brinquei, ando mesmo!

aproveito o tempo todo do mundo, que agora pareço ter, para me organizar, sabe mesmo bem fazê-lo.

acho que já tinha saudades dos bancos da escola... passados dois meses, regresso hoje a sentar-me neles. Pós-graduação ai vou eu!!! Não sei porque, mas deu-me um pouco a nostalgia... os tempos de estudante, as correrias, os stresses, os trabalhos que pareciam não ter fim, pois eram uns atrás dos outros... uma colega minha, daqueles outros bancos da escola disse-me no outro dia que tinha saudades do tempinho de estudante... uma porta fechou-se, para que outra se possa abrir! :)
"Eu penso que aquilo que faz com que nós continuemos vivos e capazes de criar é isso mesmo, uma inquietação constante. Sem ela não pode haver criação, quem não põe sempre tudo em causa, arrisca-se a ter uma vida interior de três assoalhadas, num bairro económico."
fonte: O Jornal, 30.10.1992

"Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas cosas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. [...] frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas."
fonte: Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002

CITAÇÕES DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

quinta-feira, 26 de outubro de 2006


chove... chove... chove... tem sido um dilúvio!




os correios deviam agradecer-me pela quantidade de cartas que tenho enviado nos últimos tempos... qualquer dia ainda tenho cotas!!!

O meu abrigo


ollha para mim
deixa voar os sonhos
deixa acalmar a tormenta
senta-te um pouco ai
olha para mim
fica no meu abrigo
dorme no meu abraço
e conta comigo que eu estarei aqui

enquanto anoitece, enquanto escurece
e os brilhos do mundo cintilam em nós
enquanto tu sentes que se quebrou tudo
eu estarei aqui sempre que te sentires só...

olha para mim
hoje nao há batalhas
hoje nao há tristeza
deixa sair o sol,olha para mim
fica no meu abrigo
perde-te nos teus sonhos
e conta comigo

sempre que te sentires só
Mafalda Veiga

esta música não é bela, é belíssima... ui, ui... os abrigos... os meus abrigos...

terça-feira, 24 de outubro de 2006

"Aqueles que passam por nós não vão sós, e não nos deixam sós : deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."

Felipe Cortelline Roque
"Nós não sabemos o que devemos pedir em nossas orações e, às vezes, não somos atendidos porque pedimos mal."
JOÃO PAULO II, Rosarium Virginis Mariae, 16

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

"A história de Deus comigo"

“Confio e vivo confiado, porque confio no amor e misericórdia de Deus que se manifestou definitivamente na morte e ressurreição do Seu Filho Jesus Cristo; confio e vivo confiado, não porque eu sou bom, mas porque Ele é bom."

"Deus não é para mim uma simples coisa, um princípio, uma teoria, uma abstracção, uma força cósmica, mas um Alguém, com Quem, apesar de todas as minhas falhas e imperfeições, tenho uma relação real, viva, experimentada, permanente, de amizade, de confiança, relação que afasta e expulsa o deserto e o vazio."

António Vaz Pinto S. J., in A História de Deus Comigo

Fado do encontro


Vou andando, cantando
Tenho o sol à minha frente
Tão quente, brilhante
Sinto o fogo à flor da pele
Tão quente, beijando
Como se fosses tu
Ao longe, distante
Fica o mar no horizonte
É nele, por certo
Onde a tua alma se esconde
Carente, esperandoEsse mar és tu
Pode a noite ter outra cor
Pode o vento ser mais frio
Pode a lua subir no céu
Eu já vou descendo o rio...
Na foz, revolta
Fecho os olhos, penso em ti
Tão perto, que desperto
Há uma alma à minha frente
Tão quente, beijando
Por certo que és tu
Pode a lua subir no céu
E as nuvens a noite toldar
Pode o escuro ser como breu
Acabei por te encontrar
Vou andando, cantando
Tive o sol à minha frente
Tão quente, brilhando
Que a saudade me deixou
Para sempre,
Por certo
O meu Amor és tu.
Tim


nos últimos tempos não tenho parado de ouvir esta música... ui..ui..

domingo, 22 de outubro de 2006

Ao entardecer...

"Ao entardecer desta vida examinar- te-ão no amor."
São João da Cruz

Dia Mundial das Missões

"O apóstolo João observa: “Quem ama nasce de Deus e conhece a Deus” (1 Jo 4,7). Assim, para amar segundo Deus é preciso viver n’Ele e d’Ele: Deus é a primeira “casa” do homem e só quem n’Ele se demora arde com o fogo da divina caridade capaz de “incendiar” o mundo. Não é esta a missão da Igreja, em todos os tempos?"

Papa Bento XVI, in Mensagem do Dia Mundial das Missões

sábado, 21 de outubro de 2006

Amigo


os amigos são como as estrelas, trazem brilho à nossa vida.é sempre bom estar entre amigos, a cumplicidade... as piadolas... os dichotes... sempre em amena chocarrice!!!



Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarca

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

NÃO!


o assunto anda novamente na boca dos governantes e não tarda nada o povo será ouvido. sou povo e sou pela vida, por isso digo NÃO! ao aborto.


em seguida deixo um pequeno texto para lermos e pensarmos:


"Diário de um bebé que está por nascer

5 de outubro: Hoje começa minha vida, meus pais ainda não sabem. Sou tão pequena quanto uma semente de maçã, mas já existo e sou única no mundo e diferente de todas as demais. E, apesar de quase não ter forma ainda, serei uma menina. Terei cabelos loiros e olhos azuis, e sei que gostarei muito de flores. Os cientistas diriam que tudo isto já tenho impresso no meu código genético.

19 de outubro: Cresci um pouco, mas ainda sou muito pequena para poder fazer algo por mim mesma. A mamã é que faz tudo por mim. Mas o mais engraçado é que nem sabe que está me carregando consigo, precisamente debaixo de seu coração, alimentando-me com seu próprio sangue.

23 de outubro: Minha boca começa a tomar forma. Parece incrível! Dentro de um ano, mais ou menos, estarei rindo, e mais tarde já poderei falar. A partir de agora sei qual será minha primeira palavra: Mamã: Quem se atreve a dizer que ainda não sou uma pessoa viva? É claro que sou, tal como a diminuta migalha de pão é verdadeiramente pão.

27 de outubro: Hoje meu coração começou a bater sozinho. De agora em diante baterá constantemente toda minha vida, sem parar para descansar. Então, depois de muitos anos, se sentirá cansado e irá parar e eu morrerei de forma natural. Mas agora não estou no final, e sim no começo da minha vida.

2 de novembro: A cada dia cresço um pouquinho, meus braços e pernas estão tomando forma. Mas quanto terei de esperar até que minhas perninhas me levem correndo para os braços da minha mãe, até que meus braços possam abraçar meu pai!

12 de novembro: Em minha mãos começam a se formar alguns pequeninos dedos. É estranho como são pequenos; contudo, como serão maravilhosos! Acariciarão um cachorrinho, lançarão uma bola, irão recolher flores, tocarão outra mão. Talvez algun dia meus dedos possam tocar violino ou pintar um quadro.

20 de novembro: Hoje o médico anunciou a minha mamã pela primeira vez, que eu estou vivendo aqui debaixo do seu coração. Não se sentes feliz mamã? Logo estarei em teus braços!

25 de novembro: Meus pais ainda não sabem que sou uma menina, talvez esperam um menino. Ou talvez gémeos! Mas lhes darei uma surpresa; quero me chamar Catarina, como minha mãe.

13 de dezembro: Já posso ver um pouquinho, mas estou rodeada ainda pela escuridão. Mas logo, meu olhos se abrirão para o mundo do sol, das flores, e dos sonhos. Nunca vi o mar, nem uma montanha, nem mesmo o arco íris. Como serão na realidade? Como é você, mamã?

24 de dezembro: Mamã, posso ouvir teu coração bater. Você pode ouvir o meu? Lup-dup, lup-dup..., mamã você vai ter uma filhinha saudável. Sei que algumas crianças têm dificuldades para entrar no mundo, mas há médicos que ajudam as mães e os recém nascidos. Sei também que muitas mães teriam preferido não ter o filho que levam no ventre. Mas eu estou ansiosa para estar nos teus braços, tocar o seu rosto, olhar nos teus olhos, Você me espera com a mesma alegria que eu?

28 de dezembro: O que está acontecendo? O que estão fazendo? Mamã, não deixe que me matem! Não, não!

Mamã, por que você permitiu que acabassem com minha vida? Teríamos sido tão felizes..."

FONTE: Site de Ohio Right to Life. Extraído com permissão desta organização a Vida Humana Internacional.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Ajuda-me Senhor...

"Ajuda-me, Senhor, a encontrar a tua presença no tecido dos meus dias. Que eu mantenha a atenção no interior de mim própria, como uma lâmpada acesa que nunca se apaga. Que eu escolha viver na confiança e nela construa a minha morada. Que eu viva na certeza de que sou conhecida e amada e aí encontre a fonte de todas as energias. Que as minhas palavras e todos os meus gestos sejam fruto do amor que me habita pela presença do teu Espírito. Mantêm, Senhor, a minha lâmpada acesa."

Luz terna, suave...


Luz terna, suave, no meio da noite,
Leva-me mais longe...
Não tenho aqui morada permanente:
Leva-me mais longe...

Que importa se é tão longe, para mim,
A praia onde tenho de chegar,
Se sobre mim levar constantemente
Poisada a clara luz do teu olhar?

Nem sempre Te pedi como hoje peço
Para seres a luz que me ilumina;
Mas sei que ao fim terei abrigo e acesso
Na plenitude da tua luz divina.

Esquece os meus passos mal andados,
Meu desamor perdoa e meu pecado.
Eu sei que vai raiar a madrugada
E não me deixarás abandonado.

Se tu me dás a mão não terei medo,
Meus passos serão firmes no andar.
Luz terna, suave, leva-me mais longe:
Basta-me um passo para a Ti chegar.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Recomeça


"Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade."
Miguel Torga - Recomeçar

gosto muito deste poema... transmite-me confiança e motivação. e é no fundo aquilo que pretendo... não me ficar por metades, não me ficar pelo início, não me ficar!


no outro dia li algures esta frase:

"Sê paciente e não te esqueças de que tudo o que procuras acabará por vir ao teu encontro, se te preparares para isso e esperares."


estes dias têm sido de reflexão. um dia destes alguém de quem muito gosto, disse-me: aceita esta fase da tua vida como uma benção de Deus. e a partir do momento que o fiz, tudo se tornou mais fácil. tenho aproveitado para pensar muita coisa e arrumar as gavetas da alma!


"Não sei o que vem a seguir/só sei que não posso ficar/é que hoje parece bastar um pouco de céu."(um pouco de céu, Mafalda Veiga)

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Chuva, Mariza

porque hoje chove lá fora...
porque às vezes a saudade aperta... ai, ai!
porque há "gente" que nos marca. :)
porque há dias e dias!!!


As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

domingo, 15 de outubro de 2006

Conheço a tua miséria...


"Conheço a tua miséria, os combates e as tribulações da tua caminhada, a fraqueza e as enfermidades da tua vida. Sei da tua cobardia, dos teus pecados, de teus desfalecimentos. Mesmo assim eu digo-te: Dá-me o teu coração! Ama-me do jeito que és! Se tu esperas ser anjo para te entregares ao amor, nunca amarás! Mesmo recaindo sempre naquelas faltas que nunca gostarias de ter conhecido, mesmo sendo cobarde na prática da virtude, não deixes de amar! Entrega-te a mim, ao meu amor por ti! Ama-me do jeito que és! A cada instante e em qualquer situação em que te encontrares. Ama-me do jeito que és! Quero o amor do teu pobre coração! Será que eu não poderia transformar cada grão de areia numa pessoa perfeita, cheia de pureza, nobreza e amor?! Será que eu não poderia. com um único aceno da minha vontade, fazer surgir do nada milhões de santos, mil vezes mais perfeitos e amorosos do que aqueles que já criei?! Será que não sou eu o Omnipotente?! E, se me apraz deixar tudo isso de lado, preferindo o teu pobre coração...?! Deixa-te amar por mim! Desejo o teu coração! Claro que eu te pretendo transformar e melhorar! Até lá, porém, amo-te do jeito que és! E quero que tu faças o mesmo! Quero ver, lá do fundo da tua miséria, subir o amor! Amo em ti, até mesmo a fraqueza... (...) Eu criei-te por amor e o meu amor é que te dá a vida e a santidade! Não são as tuas virtudes que eu espero! O que eu busco é a ti mesmo(a), a obra prima que criei. (...) Deixa-te conduzir por mim, é o que te peço. Ama-me do jeito que és!"

sábado, 14 de outubro de 2006

Elogio ao amor


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro.

Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.

A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


miguel esteves cardoso - expresso

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Não te inquietes...


“Não te inquietes com as dificuldades da vida
com os seus altos e baixos, com as decepções
pelo futuro que se avizinha mais ou menos sombrio.
Quer o que Deus quer.
Oferece-lhe, no meio das preocupações e dificuldades,
O sacrifício da tua alma simples que, apesar de tudo,
Aceita os desígnios da Sua providência.
Pouco importa que te consideres um fracassado
Se Deus te considera plenamente realizado
Ao seu gosto.
Perde-te, cegamente entregue a esse Deus
Que te quer para Ele.
E que chegará até a ti, ainda que nunca o vejas.
Pensa que estás nas Suas mãos
Tão mais agarrado
Quanto mais decaído e triste estiveres.
Vive feliz. Peço-te
Vive em paz.
Que nada te altere.
Que nada te possa tirar a paz.
Nem sequer o cansaço psíquico.
Nem os teus falhanços morais.
Faz que, no teu rosto, nasça e permaneça sempre
Um doce sorriso, reflexo do sorriso
Que o Senhor continuamente te dirige.
E, no fundo da tua alma coloca,
Como primeira fonte de energia e critério de verdade,
Tudo aquilo que te enche da paz de Deus.
Lembra-te sempre: tudo o que inquieta e te oprime é falso.
Eu to garanto, em nome das leis da vida
E das promessas de Deus.
Por isso, quando te sentires magoado, triste
ADORO E CONFIA…”

sempre que rezo esta oração toca-me a alma, porque me revejo!
"Quer o que Deus quer."

o amor incomoda


"Com maior ou menor frequência, acontece-nos a todos tropeçar em alguma coisa ou alguém que nos obriga a parar e a pensar. Os acontecimentos à nossa volta, as circunstâncias específicas de cada um, a vida vivida ( e quase nunca sonhada) e aquilo que não entendemos levam-nos a fazer perguntas a nós próprios. A tentar perceber, a encontrar um sentido, a avaliar e a medir.

Ir ao fundo de si mesmo nunca é um caminho fácil nem linear e, por isso, instintivamente evitamos algumas direcções e preferimos certos atalhos. Parecem-nos mais seguros e, no imediato, até abreviam o percurso, mas intimamente sabemos que a longo curso muitos destes atalhos só multiplicam os trabalhos.

Temos tantas coisas mal arrumadas dentro de nós que a tentação de evitar caminhos é banal e universal. Ou seja, todos sabemos do que se trata.

Acontece que nem sempre podemos "ir à volta", assobiar para o ar ou fingir que não vemos o que estamos a ver e não ouvimos o que estamos a ouvir. Falo, em especial, da voz interior que nos habita e jamais poderemos calar. Falo de sentimentos, portanto.

Alguém disse um dia que "deixar-se amar é aquilo a que todos resistimos mais ao longo da nossa vida" e, de facto, deixarmo-nos amar é de certa forma incómodo. Senão vejamos.

Aceitar amar e ser amado envolve riscos à partida: podemos sofrer com esse amor; podemos achar que não estamos à altura de responder aos seus desafios; podemos sentir posse e ciúmes e podemos ter a angústia de o vir a perder. Para quem, como nós, tem tantos medos e aflições, e, insisto, tantas coisas por arrumar cá dentro, estes e outros riscos são um preço demasiado elevado para pagar pelo amor. Ou não. Tudo depende do preço que cada um está disposto a pagar por aquilo que é verdadeiramente essencial para si.

Acima de tudo, ninguém quer sofrer, mas na realidade também tem que haver lugar para a tristeza e, nesse sentido, cabe perguntar se por haver sofrimento as coisas deixam de ser importantes.

Voltando à questão do amor poder ser incómodo, vale a pena pensar que, sob a aparência de bem, o tempo e a vida muitas vezes se vão encarregando de nos tirar a capacidade de amar e de sermos amados, na medida em que nos vão enchendo de coisas, interesses, medos, equívocos, situações menos claras, critérios, prioridades e preguiças que vão instalando na nossa cabeça e no nosso coração e nos impendem de sentir com verdade. Este tempo vertiginoso e esta vida acelerada confundem-nos e alteram profundamente a nossa maneira de ser e de estar. Muitas vezes não percebemos o que é importante e não sabemos onde pomos o nosso coração. O pior é que frequentemente as nossas prioridades do coração não acompanham as da cabeça e é este descompasso de racionalmente sabermos o que vem em primeiro lugar, mas emocionalmente não sermos capazes de lhe dar a prioridade absoluta, que, tantas vezes, nos deita a perder.

E é justamente nesta lógica, neste sentido exigente e perturbador, que o amor exerce alguma violência sobre nós. Ou pelo menos alguma pressão, na medida em que nos obriga a perceber que se não há espaço para amar é porque esse espaço está ocupado com outras coisas.

Por tudo isto, só é possível ir mais longe se arriscarmos quebrar paredes e derrubar muros que permitam criar o espaço que nos falta. Ou fazer como fazem os entendidos, que podam as videiras e cortam os ramos para que os frutos cresçam mais e a seiva circule melhor."
laurinda alves, revista Xis

o primeiro de muitos post's


espero que este post seja o primeiro de muitos.

escolhi este nome na alma e na pele*,pois haverão dias em que aqui irá ficar um pouco da minha alma e outros dias irá somente ficar um pouco da pele.

ainda não sei bem como me meti neste mundo dos blog's... mas cá estou eu!!!

* nome de um cd da mafalda veiga