quarta-feira, 18 de março de 2015

tinha medo de tocar e ser tocada.. depois aprendi que fazer uma festa no rosto pode muitas vezes ser o beijo não dado ou as palavras não ditas. aprendi a gostar de cada um, aprendi a querer-lhes bem e a fazer tudo para que possam estar melhor.

ainda pauso muitas vezes e questiono a utilidade do meu trabalho e chego à conclusão que é por todos eles que faz sentido a luta diária, as dores de cabeça e as lágrimas vertidas em silêncio.

dói sempre que mais um parte, mas fico sempre um pouco mais rica e preenchida como pessoa. desta vez foi a M. que do alto dos seus noventa anos partiu. estive ao seu lado na hora da Santa Unção e acompanhei-a no seu funeral, guardando a máxima da minha avó que devemos acompanhar as pessoas.

ficam palavras curiosas ditas por ela: "olha lá o que ela é de esperta" quando contrariei a sua pouca vontade de comer  e "a doutora feita à pressa".. ficam mais lembranças "sente-se aqui um bocadinho a fazer-nos companhia". uma mulher de génio e que gostava de levar a sua ideia até ao fim. fica também o testemunho das filhas presentes no seu leito de dor, querendo sempre tudo o que a mãe tinha direito.

Obrigada M. pelo testemunho de  luta e amor ao dom da vida.

quinta-feira, 5 de março de 2015

tenho um gosto particular pelas amendoeiras em flor.

Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga TORGA, M., Diário XIII.