sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Adeus

Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou
não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias:
os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada. E no entanto,
antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar
o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

5 comentários:

Ana Gamado disse...

Como alguém me disse à bem pouco tempo.. o amor é como um barco a remos. Se for só um a remar, vai acabar por se cansar :)

C disse...

deve ser alguem muito esperto na area do amor

o amor é como uma dança a dois, quando um não quero,
o outro nao dança.

Ana Gamado disse...

mais esperto do que eu é, pq na area do amor eu ñ pesco grande coisa x). No entanto, vejo muita gente a sofrer por este sentimento que poderia ser fácil e fazer tds as pessoas felizes :/. Acho que ainda tenho mt coisa que aprender.

Maria disse...

Gosto imenso.

Maria disse...

Gosto imenso.