quinta-feira, 16 de outubro de 2008

matámos os avós?

O “velho” ao invés do avô ou da avó, aquele de quem não temos memória, nem nenhuma história vivida em comum. É assim que surge a nova denominação dos avós nos tempos que correm. Se uns foram marcos na vida dos seus netos, outros são meras personagens esquecidas. Onde ficam então os avós na vida dos netos?

O que uns tiveram a mais, outros têm a menos. Os avós foram aqueles que contaram as histórias do Capuchinho Vermelho e do Gato das Botas. Para além disso, foram aqueles que permitiram certas coisas que os pais não deixam fazer. Despertaram os sentidos, principalmente o olfacto pelo cheiro do bolo acabado de fazer pela avó ou ainda aquela comida que a avó sabia que gostávamos e o cheiro característico da sua casa. Pegaram-nos pela mão, foram connosco ao parque e acompanharam-nos à escola. Deixaram um pouco de si, pela partilha da sua vida e quiseram um futuro promissor para nós.

Onde estão, hoje, esses avós? Com a desculpa que estão gastos pelo tempo, pelas circunstâncias da vida, são levados pelos filhos ou por eles próprios para um lar. Deixam de ter o contacto diário e directo com os netos, deixam de protagonizar histórias que marcam a vida dos filhos e dos netos. Começam a ter memórias escassas dos avós e apenas uma história para contar aos amigos, daquela única e remota visita que lhe fizeram. As rugas nas mãos e no rosto, os cabelos brancos deixam de ter aventuras por desvendar e segredos por revelar. Habituados a não estarem com os avós, nem sentirem saudades e deixarão de ter vontade de os visitar. Correrão o risco, se um dia se cruzarem na rua não os reconhecerem.

Como foi possível fazer isto aos avós? Quem o fez? Quem o permitiu?

Lidam convosco como estigma, desvalorizam, reduzem, olham apenas para a improdutividade, ao invés de estimular. Optam por mudanças contínuas, em vez de apostar na permanência e na continuidade e preservação do seu espaço.

Nota-se na família uma indisponibilidade para o apoio efectivo. Acresce ainda a pressão social exercida nos meios pequenos que condiciona a opção pela instituição. Existem famílias que se reorganizam de forma a tentar dar resposta às necessidades do idoso. Contudo nem sempre a manutenção do idoso, quer na sua casa ou na dos filhos pode ser a melhor solução. É preciso avaliar a situação: quais as possibilidades da família, que cuidados necessita, qual a dependência.

Onde te colocamos?

O problema não está se o avô ou a avó esta num equipamento social, mas sim na postura da família nuclear. Os avós não se podem sentir como peso para a família, mas sim um elemento da família, com características próprias.

Então, continuem a permitir que os avós possam protagonizar histórias com os netos, que o cheiro do bolo desperta coisas boas na imaginação dos netos.
é o "menino dos meus olhos", expressão utilizada para desmonstrar gosto, encanto. demorou efectivamente a sair este pseudo artigo, mas cá esta ele. é-me querido por várias razões. primeira, fez-me repensar nos meus avós e no lugar que tiveram na minha vida. segunda, partiu também do meu dia a dia, do meu trabalho e dos "meus" gerontes! terceira, foi escrito de coração!*

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